LITERATURA  na NET
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Home
Para cima
Bocage
Neoclassicismo

Home ] Para cima ] Bocage ] [ Neoclassicismo ]
 
 
 

NEOCLASSICISMO


O contexto cultural do Portugal do séc. XVIII

As transformações mentais e técnicas, e consequentemente económicas e sociais, do séc. XVIII iriam também fazer com que alguma "luz" iluminasse o espaço português.

Reatara-se desde a Restauração, e mais ainda após a época de D. João V, o contacto com o exterior através da mediação dos estrangeirados, portugueses que, emigrados por razões muitas vezes ideológicas ( a Inquisição não acalmara o seu zelo ), vão, no entanto, comentando a realidade nacional. Com D. José, ou melhor com Pombal, alguns desses portugueses são mesmo convidados a participar nas vastas reformas que o ministro se propôs realizar em todos os campos, nomeadamente no do ensino (Ribeiro Sanchez, Luís António Verney ).

Reformou-se pois profundamente, dentro de uma política, também aqui, despótica e iluminada, o ensino. Mas esta reacção ao passado no campo da prática educacional tem também paralelo nas letras. Um grupo de jovens poetas lisboetas, liderados por Correia Garção, propõe-se erradicar da literatura nacional os excessos barrocos do gongorismo peninsular tão cultivado desde o séc. XVII e que  esvaziava a poesia de conteúdo. O seu grupo, Arcádia Lusitana, evoca, pelo nome e pelos modelos tomados, o espírito da Antiguidade Clássica, da sua sobriedade e pureza formal e da sua riqueza temática.

Os poetas, que estão, na maioria dos casos, ligados ao poder por cargos no funcionalismo, e à sociedade pela extracção burguesa, cultivam muitas vezes, dentro das formas classicizantes, o gosto da crónica de costumes da sociedade da capital ou das cidades de província.

Este novo panorama literário revela-nos efectivamente "tempos novos". Surgem escritores de uma nova camada social e também um novo público, lentamente formado e educado nas publicações literárias ou científicas, nas traduções de autores franceses e ingleses, veiculando novas ideias estéticas, científicas e políticas.

Importante:

  • o papel dos estrangeirados na evolução do panorama cultural português;

  • a profusão das reformas, nomeadamente a nível do ensino, levadas a cabo pelo Marquês de Pombal;

  • a contestação aos " excessos barrocos do gongorismo" ( estilo introduzido na literatura espanhola por Luís de Gôngora e depois adoptado por outros escritores peninsulares, em que predominavam os latinismos, os neologismos, os trocadilhos, as metáforas e os pensamentos subtis );

  • a criação da Arcádia Lusitana como impulsionadora do regresso à sobriedade, pureza formal e riqueza temática da Antiguidade Clássica, à valorização da filosofia, da retórica da história;

  • o gosto da crónica de costumes e introdução do quotidiano;

  • o aparecimento de escritores de origem burguesa;

  • o nascimento de um público educado pelas traduções de autores franceses e ingleses.
    ............................................................................

   O NEOCLASSICISMO

Movimento literário, derivado do espírito crítico do Iluminismo, que visa à reabilitação e restauração dos géneros, das formas, "das técnicas e da expressão clássicas", que vingaram em Portugal no séc. XVI. Esta renovação faz-se acompanhar duma severa disciplina estética e dum purismo estreme, que procura libertar a língua de termos estranhos, restituindo-lhe uma sobriedade castiça e o rigor do sentido.
O Neoclassicismo propõe um retorno à simplicidade e perfeição do primeiro Classicismo e a condenação do Barroco. A rima, como mero artifício sonoro deve ser abolida e a mitologia suavemente usada. A grande mestra é a Natureza, que deve ser imitada como o fizeram os Antigos. A poesia tem um elevado papel didáctico, contribuindo para a transformação das mentalidades. Tudo isto deve ser orientado pelos critérios da razão e da verdade.
As Arcádias - a Lusitana, a Portuense e a Nova Arcádia - tiveram um papel relevante na exposição e divulgação desses ideais. Contudo, o grande número de normas impostas aos escritores limitou muito a sua criatividade e imaginação.
A Arcádia Lusitana, fundada em Março de 1756, é uma assembleia de escritores portugueses do séc. XVIII, que tomam o nome de velhos pastores da Grécia, querendo significar com isso que desejam regressar ao viver chão da Natureza e eu estão dispostos a levar a arte literária a uma correspondente simplicidade de expressão. O seu emblema era um lírio branco e usava como divisa a frase latina "inutilia truncat" - corta o inútil.

Os princípios estéticos gerais do arcadismo podem resumir-se em:

  • Condenação absoluta do cultismo e do conceptismo;

  • Aceitação do conceito aristotélico da Arte ( a Arte é imitação da Natureza );

  • Sentido de equilíbrio e proporção na obra literária;

  • Exposição simples e natural dos assuntos, evitando perífrases e chamando as coisas pelos seu nome;

  • Necessidade de imitação dos antigos, mas só no que têm de bom;

  • Condenação da rima;

  • Aceitação da crítica construtiva como se fora um conselho amigo. A crítica era instituição oficial da Arcádia;

  • Reconhecimento da função moderadora da poesia.

     ............................................................................

Características histórico-político-sociais e estéticas do século XVIII:

NEOCLASSICISMO

  • revalorização dos ideais clássicos: o equilíbrio, o bom senso, a apologia da experiência;

  • referência ao despotismo esclarecido, ao iluminismo e aos estrangeirados;

  • predominância dos motivos e temas clássicos: o locus amoenus, o ideal da aurea mediocritas, o carpe diem , referências mitológicas...

  • uso exclusivo de formas poéticas clássicas: soneto, odes, epigramas, epístolas, cantatas, canções, elegias, sátiras;

  • reacção contra os excessos ideológico-formais do Barroco (Séc. XVII) através da criação das academias;

  • papel preponderante dos salões literários e dos cafés na animação cultural do país e na transmissão de uma nova sensibilidade que se adivinha: o Pré-Romantismo (Segunda metade do século XVIII);

  • época de grandes mudanças a nível mundial ( independência dos EUA em 1776 e Revolução Francesa em 1789);

  • valorização da liberdade, quer a nível social, quer estético e individual.

PRÉ-ROMANTISMO

Dá-se este nome, na Literatura Portuguesa, ao conjunto de manifestações duma sensibilidade e dum gosto românticos antes de 1825, data que se toma convencionalmente para marcar o início do Romantismo em Portugal.
Hoje podemos definir o Pré-Romantismo pelas seguintes características:

  • o signo infeliz do poeta, inclinado à melancolia e ao desespero;

  • o comprazimento no isolamento e na paisagem ensombrada e lúgubre;

  • a intuição do mistério do universo leva o poeta a confiar em agouros e pressentimentos que vão aumentar a inquietação;

  • a vivência pelos afectos, pelas emoções, pelos sentidos;

  • o amor total ou sensual;

  • a poesia como expressão do tumulto interior, torna-se expansiva e confidencial e tende a confundir-se com a vida;

  • a procura de uma linguagem nova, impressionante e excessiva, capaz de traduzir o fluxo subjectivo ( por vezes uma espontaneidade emocional, por vezes uma declamação espectacular);

  • a reacção contra o racionalismo iluminístico;

  • a expressão da nostalgia do maravilhoso ou do pitoresco folclórico (lendas, contos de fadas, velhos usos e tradições ).

 

 

     BARREIROS, António José, História da Literatura Portuguesa, Volume 1,Edição do Autor, Braga,1996.
2.  COELHO, Jacinto do Prado , Dicionário de Literatura, Livraria Figueirinhas, Porto, 1981.

 

Voltar ao início