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        BOCAGE 

  PERFIL POÉTICO:

Manuel Maria Barbosa du Bocage ( o Elmano Sadino da Nova Arcádia) é um poeta de transição entre duas escolas literárias bem conhecidas: Classicismo e Romantismo.

Bocage é um poeta de claro-escuro, ora de sombras nocturnas, ora de serena luminosidade. O poeta consumiu-se na busca incessante de uma felicidade impossível, ora inventando mulheres quiméricas, idealizando mulheres de carne e osso que depressa o decepcionavam, quando não o desiludiam de si próprio, ora evadindo-se pela entrega ao prazer sensual. O sentimento agudo da frustração leva-o a pensar no suicídio. A morte horroriza-o e ao mesmo tempo exerce nele uma poderosa sedução: é o esquecimento, a paz. Por isso Bocage elogia a Noite, símbolo da morte, e descreve gostosamente a paisagem nocturna povoada de animais sinistros muito em voga no Pré-Romantismo: o mocho, o corvo.

  PERCURSO BIOGRÁFICO:

  • nascimento em Setúbal a 15 de Setembro de 1756;

  • embarque para a Índia e passagem pelo Brasil em 1786;

  • regresso a Lisboa em 1790;

  • publicação do 1º tomo das Rimas em 1791;

  • vida dissoluta passada entre os cafés, os salões e uma boémia generalizada;

  • obsessão do paralelismo existente entre a sua vida e a de Camões;

  • prisão, por delito contra o Estado ( irreverências antimonárquicas e anticatólicas) em 1797;

  • estada, por decisão do Tribunal, no Mosteiro de São Bento da Saúde, em 1798;

  • publicação do 2º tomo das Rimas, em 1799;

  • publicação do 3º tomo das Rimas, em 1804;

  • morte a 21 de Dezembro de 1805.

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BOCAGE

"CLARO"
NEOCLASSICISMO

  • Natureza colorida e esplendorosa ( Primavera e Verão), alegre e suave ("locus amoenus")

  • Domínio da razão

  • Uso da mitologia pagã: Amores, Zéfiro, Vénus, Mavort

  • imitação dos clássicos greco-latinos e de autores quinhentistas como Camões

  • alegoria

  • imitação

  • Forma: soneto

  • Vocabulário erudito

  • Linguagem oratória, recheada de exclamações e hipérboles

  Exemplo:

Olha, Marília, as flautas dos pastores,
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

"ESCURO"
PRÉ-ROMANTISMO

  • Natureza sombria e melancólica (Outono e Inverno), agreste ("locus horrendus")

  • Natureza - reflexo do estado de espírito do poeta

  • Valorização do sentimento (predomínio da sensibilidade sobre a razão)

  • Desespero, angústia, melancolia, solidão, tristeza, gosto pelo fúnebre e nocturno

  • Relações profundamente afectivas entre a Natureza e o EU

  • Linguagem nova que melhor traduza a força dos sentimentos, feita de exclamações, vocativos, suspensões frásicas, etc.

  • Mochos, pios, gemidos, ciprestes, chorar, praguejar, delirar, sombras, furacões, ira, etc.

  • A obsessão da morte:
    - encarada como libertação;
    - crença no perdão final, associado ao arrependimento e sentimentos religiosos

  • Personificações constantes

Exemplo:

O Céu, de opacas sombras abafado,
Tornando mais medonha a noite feia;
Mugindo sobre as rochas, que salteia,
O mar, em crespos montes levantado;

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ALGUNS TEXTOS DE BOCAGE

SONETO 1:
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

Breve abordagem:
Análise formal:

  • soneto: composto por 14 versos, dispostos em duas quadras e dois tercetos, com versos decassilábicos e esquema rimático - abba, abba, cdc, dcd.

 Análise de conteúdo:

  • Soneto autobiográfico (auto-retrato)

  • Podemos dividir o soneto em duas partes lógicas: 1ªparte - duas quadras e o 1º terceto, parte - o 2º terceto. A 1ª parte é mais descritiva e nela o poeta começa por fazer o seu retrato físico ( na 1ª quadra), de seguida faz o seu retrato psicológico: inconstante; dado à ira; propenso a paixões amorosas; anticlerical (2ª quadra e 1º terceto). No último terceto, apresenta-se, referindo o seu apelido - Bocage.

  • Elementos Neoclássicos: a forma - o soneto; o vocabulário alatinado - níveas, letal, deidades.

  • Elementos Românticos: a autobiografia; o individualismo; o amor sensual.

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SONETO 2:
Olha, Marília, as flautas dos pastores,
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha: não sentes
Os Zéfiros brincar por entre as flores?

Vê como ali, beijando-se, os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folhas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira,
Mais tristeza que a noite me causara.

Ø       Tenta fazer uma comparação com o soneto de Camões "A fermosura desta fresca serra", tendo como ponto de partida a relação eu poético/amada/Natureza.

" A fermosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do Sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;

Enfim, tudo o que a rara natureza
Com tanta variedade nos ofrece,
Me está, se não te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando,
Nas mores alegrias, mor tristeza."
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SONETO 3:
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar c’o sacrílego gigante.

Como tu, junto ao Ganges sussurrante
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao céo, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh tristeza!
Se te imito nos transes da ventura,
Não te imito nos dons da natureza.
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SONETO 4:
O Céu, de opacas sombras abafado,
Tornando mais medonha a noite feia;
Mugindo sobre as rochas, que salteia,
O mar, em crespos montes levantado;

Desfeito em furacões o vento irado;
Pelos ares zunindo a solta areia;
O pássaro nocturno que vozeia
No agoireiro cipreste além pousado,

Formam quadro terrível, mas aceito,
Mas grato aos olhos meus, grato à fereza
Do ciúme e saudade, a que ando afeito.

Quer no horror igualar-me a natureza;
Porém cansa-me em vão, que no meu peito
Há mais escuridade, há mais tristeza.
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SONETO 5:

Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento.
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.

Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento!
Musa... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura!

Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade
Que atrás do som fantástico corria:

Outro Aretino fui... A santidade
Manchei... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
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SÍNTESE DOS PRINCIPAIS ASPECTOS DA LÍRICA DE BOCAGE

NÍVEL TEMÁTICO

        Aspectos clássicos:

  • referências mitológicas

  • referência ao destino

  • sentimento da natureza

  • locus amoenus

  • imitação de modelos

  • o tópico da modéstia

    Aspectos românticos:

  • locus horrendus

  • o tema da morte e do arrependimento

  • o egotismo

  • o masoquismo / o niilismo

  • a sensualidade / o amor, a paixão, o ciúme

  • o apelo à liberdade

  • o poeta como vate (adivinho)

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NÍVEL FORMAL
Aspectos clássicos:

  • soneto / verso decassílabo

  • tom eloquente / a construção frásica equilibrada

    Aspectos românticos:

  • tom subjectivo

  • tom oralizante construído através do emprego frequente de interjeições, exclamações, frases entrecortadas, interrogações

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  BIBLIOGRAFIA:
1
.  BARREIROS, António José, História da Literatura Portuguesa, Volume 1,Edição do Autor, Braga,1996.
2.  COELHO, Jacinto do Prado , Dicionário de Literatura, Livraria Figueirinhas, Porto, 1981.
3. MOREIRA, Vasco, PIMENTA, Hilário, Dimensão Comunicativa - 11.ºAno, Porto, Porto Editora,1998.
4. QUINTELA, Dulce et alii, Temas de Língua e Cultura Portuguesa, Lisboa, Editorial Presença, Junho,1980.

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