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POESIA TROVADORESCA
A poesia chamada trovadoresca (porque feita por trovadores), abrangendo Cantigas de Amigo, Cantigas de Amor e Cantigas de Escárnio e Maldizer, situa-se na Idade Média (séculos XII a XIV). O
poder criativo do homem medieval é testemunhado na edificação pela
pedra de imponentes catedrais e, pela palavra de um movimento poético
com belos e sentidos cantares cuja temática predominante é o amor
e a saudade. Reunida
em Cancioneiros ( Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Biblioteca
Nacional e Cancioneiro da Vaticana) a produção poética medieval
compreende:
CANTIGAS
DE AMIGO As
Cantigas de Amigo, de forma mais simples, apresentam-nos, em
geral, a mulher integrada no ambiente rural: na fonte ou na romaria,
lugares de namoro; sob as flores do pinheiro ou de avelaneira; no
rio, onde lava a roupa e os cabelos ou se desnuda para tomar
banho; na praia, onde aguarda o regresso dos barcos. O
trovador usa o artifício de falar como uma menina enamorada, do
povo, que se dirige ao amigo ou amado, que fala dele à própria mãe,
às irmãs, às companheiras ou ao Santo da sua devoção. Estas cantigas são postas na boca de uma mulher solteira (sujeito poético), donzela, que exprime os seus pequenos dramas e situações da vida amorosa. O paralelismo constitui a característica formal mais importante deste tipo de cantigas)
CANTIGAS
DE AMOR
A Provença, a partir do séc. XI, foi o berço de um encantador lirismo, que concebia o amor como um culto. Este lirismo difundiu-se na Península Ibérica nos séc. XII e XIII, dando origem à chamada Cantiga de Amor que segue o modelo provençal. De carácter aristocrático dá expressão à coita de amor (raramente à alegria) fazendo do amor um preito de vassalagem à “senhor”.
Quem nestas cantigas fala é um homem (sujeito poético) que se dirige ou se refere a uma dona, oriunda de um estrato social superior ( residindo em ambientes palacianos). O
trovador imaginava a “dona” como um “suserano”
a quem “servia” numa atitude submissa de “vassalo”. CANTIGAS
DE ESCÁRNIO E MALDIZER O trovador satiriza (escarnece de alguém) de maneira velada ou directa, respectivamente.
ARTE POÉTICA TROVADORESCA 1.
Definições da
Arte de Trovar (1) E
porque alguas cantigas í há en
que
falam eles e elas outrossi,
per en
he bem
de entenderdes se som d'amor,
se
d'amigo: porque sabede que, se eles falam na prima
cobra e elas na outra he
d'amor,
porque
se move
a razon d'ele (como vos ante dissemos); e
se elas falam
na primeira cobra, é outrossí d'amigo, e
se ambos falam em ua cobra, outrossi
é segundo qual deles
fala na cobra primeiro. Arte
de
Trovar (introdução
ao CBN), cap. IV Cantigas
d'escarneo som
aquelas que os trobadores fazen
querendo dizer mal d'alguen en
elas,
e dizen-lho per palavras cubertas que ha]an dous
entendimentos, pera
lhe-lo non entenderen... ligeiramente: e estas palavras chamam os clerigos
"hequivocatio' E estas cantigas se podem fazer outrossi de mestria ou de
refram. (..)
Cantigas de maldizer son
aquelas que fazem os trobadores descubertamente:
em
elas entrarám
palavras em que querem dizer mal e nom
averám outro entendimento se nom aqud
que
querem dizer chãamente. Arte
de
Trovar, caps.
V
e V Outras
cantigas fazem os trovadores que chamam tenções,
porque
son
feitas
per maneiras de razom
que um haja contra outro, en
que
el diga aquelo que por bem te ver na primeira cobra, e o outro
rsponda-the na outra dizendo o contraíra. Estas
se podem fazer d'amor ou d'amigo ou d'escarnho ou de maldizer, pero que devem
de ser de
mestria. Arte
de
Trovar,
cap.
VII Porque
alguns trobadores, pera monstrarem moor
mestria, meteram, en sas
cantigas que fezeron,
una palavra que nom
rimasse
com as outras, e chamam-lhe "palavra
perduda" E
esta palavra pode meter o trobador
no começo ou no meio, ou na cima da cobra, em qual lagar quiser. Arte de Trovar, cap. II do quarto capítulo
2.
Glossário de conceitos essenciais Pastorela
-
cantigas
de origem provençal, geralmente iniciadas
pela fala do cavaleiro que declara o seu amor a uma
pastora. Este género, entre nós, adquiriu algumas características
das cantigas de amigo - ambiente rústico,
simplicidade da donzela -, pelo
que se integram, habitualmente,
neste género de composições trovadorescas. Serventês
-
composições
que reflectem a influência provençal
(sirventés ou serventois
provençal)
e que servem para
exprimir ideias morais ou a sátira pessoal, literária, política
ou social. Copla
ou cobra -
estrofe. Coplas
uníssonas -
estrofes
que obedecem ao mesmo esquema
rimático, numa determinada composição poética. Coplas
singulares -
cada
estrofe da composição poética possui
um esquema rimático diferente. Coplas
monórrimas -
cada
estrofe mantém a mesma vogal
rimática. Paralelismo
-
repetição
estrutural e/ou semântica. Repetição na
estrofe par da ideia da estrofe ímpar, havendo uma semelhança formal. O
processo encadeia-se de
modo a constituir uma unidade rítmica e semântica. Refrão
-
repetição
de um ou mais versos no fim de cada copla. Leixa-pren
-
repetição
do 2.º verso da 1.ª
estrofe no 1.º verso da 3.ª estrofe e do
2.º verso da 2.ª estrofe no 1 .º
verso da 4.ª estrofe, e assim
sucessivamente. Finda
-
estrofe
curta que remata a composição poética. Encavalgamento
ou transporte -
processo
poético que consiste em completar a ideia de um verso no
verso seguinte, não coincidindo, portanto, a pausa métrica com a pausa sintáctica. Atafinda
-
processo
poético que consiste em levar o pensamento, ininterruptamente, até ao fim da
cantiga, usando para isso o processo de encavalgamento na articulação das
estrofes. A Arte de
Trovar designava
estas composições "ateudas". Dobre
-
emprego
da mesma palavra, na mesma posição no verso, em diferentes coplas. Mordobre
ou mozdobre
(mots
doble
=
palavra dupla) -
emprego repetido de diferentes flexões de
uma determinada palavra.
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