Leia e guarde esta lição
O presidente
Barak Obama falou ontem aos alunos da América
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Publicado em 09 de Setembro
de 2009 |
"Sei que para muitos de vocês hoje é o primeiro dia de
aulas, e para os que entraram para o jardim infantil, para a escola primária
ou secundária, é o primeiro dia numa nova escola, por isso é compreensível
que estejam um pouco nervosos. Também deve haver alguns alunos mais
velhos, contentes por saberem que já só lhes falta um ano. Mas, estejam
em que ano estiverem, muitos devem ter pena por as férias de Verão terem
acabado e já não poderem ficar até mais tarde na cama.
Também conheço essa sensação. Quando era miúdo, a minha família
viveu alguns anos na Indonésia e a minha mãe não tinha dinheiro para me
mandar para a escola onde andavam os outros miúdos americanos. Foi por
isso que ela decidiu dar-me ela própria umas lições extras, segunda a
sexta-feira, às 4h30 da manhã.
A ideia de me levantar àquela hora não me agradava por aí além.
Adormeci muitas vezes sentado à mesa da cozinha. Mas quando eu me
queixava a minha mãe respondia-me: "Olha que isto para mim também não
é pêra doce, meu malandro..."
Tenho consciência de que alguns de vocês ainda estão a adaptar-se ao
regresso às aulas, mas hoje estou aqui porque tenho um assunto importante
a discutir convosco. Quero falar convosco da vossa educação e daquilo
que se espera de vocês neste novo ano escolar.
Já fiz muitos discursos sobre educação, e falei muito de
responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos professores de vos
motivarem, de vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da
responsabilidade dos vossos pais de vos manterem no bom caminho, de se
assegurarem de que vocês fazem os trabalhos de casa e não passam o dia
à frente da televisão ou a jogar com a Xbox. Falei da responsabilidade
do vosso governo de estabelecer padrões elevados, de apoiar os
professores e os directores das escolas e de melhorar as que não estão a
funcionar bem e onde os alunos não têm as oportunidades que merecem.
No entanto, a verdade é que nem os professores e os pais mais dedicados,
nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês
não assumirem as vossas responsabilidades. Se vocês não forem às
aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e
aos outros adultos e não trabalharem duramente, como terão de fazer se
quiserem ser bem sucedidos.
E hoje é nesse assunto que quero concentrar-me: na responsabilidade de
cada um de vocês pela sua própria educação.
Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha
alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É
essa oportunidade que a educação vos proporciona.
Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores - suficientemente bons
para escreverem livros ou artigos para jornais -, mas se não fizerem o
trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam pessoas
inovadoras ou inventores - quem sabe capazes de criar o próximo iPhone ou
um novo medicamento ou vacina -, mas se não fizerem o projecto de Ciências
podem não vir a percebê-lo. Talvez possam vir a ser mayors ou senadores,
ou juízes do Supremo Tribunal, mas se não participarem nos debates dos
clubes da vossa escola podem nunca vir a sabê-lo.
No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos
que não será possível a não ser que estudem. Querem ser médicos,
professores ou polícias? Querem ser enfermeiros, arquitectos, advogados
ou militares? Para qualquer dessas carreiras é preciso ter estudos. Não
podem deixar a escola e esperar arranjar um bom emprego. Têm de
trabalhar, estudar, aprender para isso.
E não é só para as vossas vidas e para o vosso futuro que isto é
importante. O que vocês fizerem com os vossos estudos vai decidir nada
mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que aprenderem na
escola agora vai decidir se enquanto país estaremos à altura dos
desafios do futuro.
Vão precisar dos conhecimentos e das competências que se aprendem e
desenvolvem nas ciências e na matemática para curar doenças como o
cancro e a sida e para desenvolver novas tecnologias energéticas que
protejam o ambiente. Vão precisar da penetração e do sentido crítico
que se desenvolvem na história e nas ciências sociais para que deixe de
haver pobres e sem-abrigo, para combater o crime e a discriminação e
para tornar o nosso país mais justo e mais livre. Vão precisar da
criatividade e do engenho que se desenvolvem em todas as disciplinas para
criar novas empresas que criem novos empregos e desenvolvam a economia.
Precisamos que todos vocês desenvolvam os vossos talentos, competências
e intelectos para ajudarem a resolver os nossos problemas mais difíceis.
Se não o fizerem - se abandonarem a escola -, não é só a vocês mesmos
que estão a abandonar, é ao vosso país.
Eu sei que não é fácil ter bons resultados na escola. Tenho consciência
de que muitos têm dificuldades na vossa vida que dificultam a tarefa de
se concentrarem nos estudos. Percebo isso, e sei do que estou a falar. O
meu pai deixou a nossa família quando eu tinha dois anos e eu fui criado
só pela minha mãe, que teve muitas vezes dificuldade em pagar as contas
e nem sempre nos conseguia dar as coisas que os outros miúdos tinham.
Tive muitas vezes pena de não ter um pai na minha vida. Senti-me sozinho
e tive a impressão que não me adaptava, e por isso nem sempre conseguia
concentrar-me nos estudos como devia. E a minha vida podia muito bem ter
dado para o torto.
Mas tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e consegui ir para a
faculdade, estudar Direito e realizar os meus sonhos. A minha mulher, a
nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história parecida com a
minha. Nem o pai nem a mãe dela estudaram e não eram ricos. No entanto,
trabalharam muito, e ela própria trabalhou muito para poder frequentar as
melhores escolas do nosso país.
Alguns de vocês podem não ter tido estas oportunidades. Talvez não haja
nas vossas vidas adultos capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem
sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro não chega. Pode ser
que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a
fazer coisas que vocês sabem que não estão bem.
Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida - o vosso aspecto, o
sítio onde nasceram, o dinheiro que têm, os problemas da vossa família
- não são desculpa para não fazerem os vossos trabalhos nem para se
portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos
professores, para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são
desculpa para não estudarem.
A vossa vida actual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser
no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês. Aqui, nos Estados
Unidos, somos nós que decidimos o nosso destino. Somos nós que fazemos o
nosso futuro.
E é isso que os jovens como vocês fazem todos os dias em todo o país.
Jovens como Jazmin Perez, de Roma, no Texas. Quando a Jazmin foi para a
escola não falava inglês. Na terra dela não havia praticamente ninguém
que tivesse andado na faculdade, e o mesmo acontecia com os pais dela. No
entanto, ela estudou muito, teve boas notas, ganhou uma bolsa de estudos
para a Universidade de Brown, e actualmente está a estudar Saúde Pública.
Estou a pensar ainda em Andoni Schultz, de Los Altos, na Califórnia, que
aos três anos descobriu que tinha um tumor cerebral. Teve de fazer
imensos tratamentos e operações, uma delas que lhe afectou a memória, e
por isso teve de estudar muito mais - centenas de horas a mais - que os
outros. No entanto, nunca perdeu nenhum ano e agora entrou na faculdade.
E também há o caso da Shantell Steve, da minha cidade, Chicago, no
Illinois. Embora tenha saltado de família adoptiva para família adoptiva
nos bairros mais degradados, conseguiu arranjar emprego num centro de saúde,
organizou um programa para afastar os jovens dos gangues e está prestes a
acabar a escola secundária com notas excelentes e a entrar para a
faculdade.
A Jazmin, o Andoni e a Shantell não são diferentes de vocês.
Enfrentaram dificuldades como as vossas. Mas não desistiram. Decidiram
assumir a responsabilidade pelos seus estudos e esforçaram-se por alcançar
objectivos. E eu espero que vocês façam o mesmo.
É por isso que hoje me dirijo a cada um de vocês para que estabeleça os
seus próprios objectivos para os seus estudos, e para que faça tudo o
que for preciso para os alcançar. O vosso objectivo pode ser apenas fazer
os trabalhos de casa, prestar atenção às aulas ou ler todos os dias
algumas páginas de um livro. Também podem decidir participar numa
actividade extracurricular, ou fazer trabalho voluntário na vossa
comunidade. Talvez decidam defender miúdos que são vítimas de
discriminação, por serem quem são ou pelo seu aspecto, por acreditarem,
como eu acredito, que todas as crianças merecem um ambiente seguro em que
possam estudar. Ou pode ser que decidam cuidar de vocês mesmos para
aprenderem melhor. E é nesse sentido que espero que lavem muitas vezes as
mãos e que não vão às aulas se estiverem doentes, para evitarmos que
haja muitas pessoas a apanhar gripe neste Outono e neste Inverno.
Mas decidam o que decidirem gostava que se empenhassem. Que trabalhassem
duramente. Eu sei que muitas vezes a televisão dá a impressão que
podemos ser ricos e bem-sucedidos sem termos de trabalhar - que o vosso
caminho para o sucesso passa pelo rap, pelo basquetebol ou por serem
estrelas de reality shows -, mas a verdade é que isso é muito pouco provável.
A verdade é que o sucesso é muito difícil. Não vão gostar de todas as
disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão ser
úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar
os vossos objectivos à primeira.
No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do
mundo são as que sofreram mais fracassos. O primeiro livro do Harry
Potter, de J. K. Rowling, foi rejeitado duas vezes antes de ser publicado.
Michael Jordan foi expulso da equipa de basquetebol do liceu, perdeu
centenas de jogos e falhou milhares de lançamentos ao longo da sua
carreira. No entanto, uma vez disse: "Falhei muitas e muitas vezes na
minha vida. E foi por isso que fui bem-sucedido."
Estas pessoas alcançaram os seus objectivos porque perceberam que não
podemos deixar que os nossos fracassos nos definam - temos de permitir que
eles nos ensinem as suas lições. Temos de deixar que nos mostrem o que
devemos fazer de maneira diferente quando voltamos a tentar. Não é por
nos metermos num sarilho que somos desordeiros. Isso só quer dizer que
temos de fazer um esforço maior por nos comportarmos bem. Não é por
termos uma má nota que somos estúpidos. Essa nota só quer dizer que
temos de estudar mais.
Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não
entramos para a primeira equipa da universidade a primeira vez que
praticamos um desporto. Não acertamos em todas as notas a primeira vez
que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o
trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática
várias vezes até acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o
perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes antes de poderem entregá-lo.
Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda
quando precisarem. Eu todos os dias o faço. Pedir ajuda não é um sinal
de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem de admitir
que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem
confiem - um pai, um avô ou um professor ou treinador - e peçam-lhe que
vos ajude.
E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem
desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram - nunca
desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de vocês mesmos é do vosso
país que estão a desistir.
A história da América não é a história dos que desistiram quando as
coisas se tornaram difíceis. É a das pessoas que continuaram, que
insistiram, que se esforçaram mais, que amavam demasiado o seu país para
não darem o seu melhor.
É a história dos estudantes que há 250 anos estavam onde vocês estão
agora e fizeram uma revolução e fundaram este país. É a dos estudantes
que estavam onde vocês estão há 75 anos e ultrapassaram uma depressão
e ganharam uma guerra mundial, lutaram pelos direitos civis e puseram um
homem na Lua. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 20
anos e fundaram a Google, o Twitter e o Facebook e mudaram a maneira como
comunicamos uns com os outros.
Por isso hoje quero perguntar-vos qual é o contributo que pretendem
fazer. Quais são os problemas que tencionam resolver? Que descobertas
pretendem fazer? Quando daqui a 20 ou a 50 ou a 100 anos um presidente
vier aqui falar, que vai dizer que vocês fizeram pelo vosso país?
As vossas famílias, os vossos professores e eu estamos a fazer tudo o que
podemos para assegurar que vocês têm a educação de que precisam para
responder a estas perguntas. Estou a trabalhar duramente para equipar as
vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os
computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que
trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o
que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês. Não nos desapontem. Não
desapontem as vossas famílias e o vosso país. Façam-nos sentir orgulho
em vocês. Tenho a certeza que são capazes."
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