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Caravaggio, Madalena

 

REALISMO E NATURALISMO

 

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  •     Realismo - Génese e Evolução da Geração de 70 

  •  Questão Coimbrã

  •  Conferências do Casino

A Europa do século XIX sofre profundas alterações a todos os níveis. As grandes revoluções científicas, técnicas e industriais são acompanhadas por uma enorme agitação social, em grande parte resultante da segunda fase da Revolução Industrial. O idealismo romântico, em vez de solucionar os problemas, tinha-os agravado.

Em 1857, surge, em França, Madame Bovary, de Gustave Flaubert, considerado o primeiro romance realista da literatura universal. Dez anos depois, Emile Zola publica Thérèse Raquin, inaugurando o romance naturalista.

Eça de Queirós, na 4.ª Conferência do Casino Lisbonense afirma que "O Realismo é uma reacção contra o Romantismo: O Romantismo era a apoteose do sentimento; - o Realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade".

Realismo

O Realismo apresenta-se como uma doutrina filosófica e uma corrente estética e literária que procura a conformação com a realidade. As suas características estão intimamente ligadas ao momento histórico, reflectindo as novas descobertas científicas, as evoluções tecnológicas e as ideias sociais, políticas e económicas da época.

O Realismo preocupa-se com a verdade dos factos, a realidade concreta, a explicação lógica dos comportamentos. Procura ver a realidade de forma objectiva e surge como reacção ao idealismo e ao subjectivismo emocional românticos. Como movimento da arte e da literatura, procura representar o mundo exterior de uma forma fidedigna, sem interferência de reflexões intelectuais nem preconceitos, e voltada para a análise das condições políticas, económicas e sociais.

Romance realista

O romance realista é de carácter documental, procurando fazer o retrato de uma época, dando conta dos espaços sociais, normalmente da burguesia. É isso que se observa n’ Os Maias de Eça de Queirós e que se depreende desde o início com o subtítulo "Episódios da Vida Romântica". Aí, através da comédia de costumes, procura observar diversos quadros sociais e denunciar a corrupção, a frivolidade, a superficialidade, a ignorância e as mentalidades retrógradas.

O romance realista surge orientado para a análise psicológica da sociedade, criticando-a a partir do comportamento das personagens, nomeadamente das que se consideram das classes dominantes, e procurando captar as condições mais miseráveis e torpes da vida real.

 

Naturalismo

O Naturalismo surge muito próximo do Realismo e chega a ser confundido com ele. Mas, se tem semelhanças, também tem diferenças. O Naturalismo pode definir-se como uma concepção filosófica que considera a Natureza como única realidade existente, recusando explicações que transcendam as ciências naturais. Graças às teorias positivistas e experimentais, passa a interessar-se pelo estudo analítico. Não lhe bastam os quadros objectivos da realidade, mas analisa também as circunstâncias sociais que envolvem cada personagem.

  Como num laboratório de ciências médico-biológicas, a obra naturalista procura explicar as suas personagens através da análise aos problemas e doenças hereditárias, aos antecedentes familiares, à sua educação, ao meio social em que foram criadas e em que desempenham as suas actividades ou à sua posição económica.

Romance naturalista

  O romance naturalista é, em geral, de carácter experimental e cientificista, um romance de tese que se orienta para a análise social e valorização do colectivo. Procura mostrar o indivíduo como produto de um conjunto de factores "naturais" - meio em que vive e sobre o qual pode agir momento e hereditariedade psicofisiológica - geradores de comportamentos e situações específicas.

      No romance experimental naturalista, a personalidade humana é determinada ou configurada por forças instintivas naturais que não devem ser reprimidas.

 

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Semelhanças e diferenças entre o Realismo e o Naturalismo (a literatura como instrumento de análise de tipos sociais e como reforma dos costumes)

    Os termos Realismo e Naturalismo surgem, frequentemente, associados. Há quem prefira ver o Naturalismo como um prolongamento do Realismo, mas mais consistente e pesquisador Alguns afirmam que o Naturalismo é um Realismo exacerbado. O próprio Eça de Queirós, no episódio do jantar do Hotel Central, n’ Os Maias, não é claro na explicitação destes dois conceitos.

    Há, de facto, semelhanças e diferenças entre Realismo e Naturalismo. Ambos partem da realidade que observam e procuram uma mesma conclusão. Mas enquanto o Realismo se ocupa da realidade imediata, próxima e objectiva, tentando retratar o indivíduo interagindo no seu meio social, o Naturalismo interessa-se pelas causas últimas que podem gerar comportamentos e situações específicas. O Naturalismo retrata o lado patológico do indivíduo, o seu comportamento em obediência aos instintos e condicionado pelo meio e pela hereditariedade, a incapacidade de modificar o destino que o persegue. A obra naturalista interessa o aspecto materialista da existência humana, simples produto biológico, de que é necessário descrever de forma precisa, minuciosa, fria e exacta, as reacções sem nenhuma interferência de ordem pessoal ou moral.

    Tanto o Realismo como o Naturalismo surgem contra o tradicionalismo romântico, num verdadeiro compromisso com a realidade do mundo objectivo e o momento presente das suas observações. Os escritores e artistas de qualquer destas tendências procuram, sem preconceitos, representar os problemas concretos e quotidianos do seu tempo. Frequentemente, são anticlericais, enquanto se opõem à defesa de ideologias ultrapassadas; são antimonárquicos, considerando a monarquia falida; e antiburgueses, pois a burguesia surge como a verdadeira imagem e status dos românticos.

    Nas obras realistas e naturalistas, as personagens individuais, retiradas da vida quotidiana, retratam comportamentos e reacções, apresentando-se como representativas de uma categoria social.

    Privilegiando a narração, as obras realistas e naturalistas recorrem a uma linguagem próxima do texto informativo, clara e simples, usando a ordem directa nas construções sintácticas e sem grandes artifícios metafóricos ou outros para traduzir a realidade.

      Em muitas obras de escritores realistas, podemos encontrar marcas do Naturalismo. O romance Os Maias, por exemplo, apresenta-nos o comportamento e o suicídio de Pedro da Maia determinados pela educação, pelo meio social e pela hereditariedade psicofisiológica.

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Questão Coimbrã

  O aparecimento do Realismo em Portugal surge associado à Questão Coimbrã, célebre polémica literária, suscitada por uma carta-posfácio, escrita por A. Feliciano de Castilho, em 1865, e inserida no livro de Pinheiro Chagas, Poema da Mocidade, que teve como resposta o opúsculo Bom Senso e Bom Gosto (1866) de Antero de Quental. Nesse posfácio, Castilho aproveitara para criticar e acusar de exibicionistas e obscuros, um grupo de poetas de Coimbra, citando Teófilo Braga, Vieira de Castro e Antero de Quental. Em Bom Senso e Bom Gosto, Antero reage contra o conservadorismo, contra a literatura de salão ultra-romântica e contra a falta de ideias, defendendo o progresso, uma literatura viva e comprometida com novos tempos, com os conhecimentos trazidos pelas correntes filosóficas e pelas descobertas científicas da época.

Eça de Queirós, em Notas Contemporâneas, aborda a Questão Coimbrã, afirmando que "Coimbra vivia então numa grande actividade, ou antes, num grande tumulto mental" E acrescenta “relativamente a Antero de Quental e a Teófilo Braga, o vetusto árcade mostrou intolerância e malignidade, deprimindo e escarnecendo dois escritores moços, portadores de uma ideia e de uma expressão próprias, só porque eles as produziam sem primeiramente, de cabeça curva, terem pedido o selo e o visto para os seus livros à mesa censória, instalada sob a seca olaia do seco cantor do Primavera. O protesto de Antero foi portanto moral, não literário. A sua faiscante carta Bom Senso e Bom Gosto continuava, nos domínios do pensamento, o guerra por ele encetada contra todos os tiranetes, e pedagogos, e reitores obsoletos, e gendarmes espirituais, com quem topava ao penetrar, homem livre, no mundo que queria livre."

 

Geração de 70

A partir da Questão Coimbrã, diversos jovens estudantes de Coimbra revelam-se inconformados e convictos de que é necessário superar as limitações da tradição e do Conservadorismo em Portugal. É a chamada "Geração de 70" quem se assume como consciência de uma época e da necessidade de mudança para um novo século e uma nova mentalidade. Antero de Quental é o mais importante "líder" e são dele os principais textos contra a geração ultra-romântica. Eça de Queirós, em Notas Contemporâneas, afirma que: "Todos os Manifestos ao País, que a tradição nos impunha no começo destas sedições, saíam da pena de Antero - porque já ele era, além da melhor ideia da Academia, o seu melhor verbo. E enfim foi ele ainda quem se rebelou contra outro e bem estranho despotismo, o da literatura oficial, na tão famosa e tão verbosa Questão Coimbrã."

 

Conferências do Casino

    As palavras de ordem e a polémica literária e cultural que se iniciara com a Questão Coimbrã transferem-se de Coimbra para Lisboa, adquirindo um novo sentido com o Grupo do Cenáculo, a funcionar próximo do Chiado, liderado por Antero de Quental. Mas as propostas e os debates acerca da renovação cultural portuguesa só ganham projecção política e social com as Conferências do Casino, cujo Programa é assinado em 16 de Maio de 1871.

    As Conferências Democráticas do Casino Lisbonense realizaram-se numa sala da esquina da Travessa da Trindade (hoje Largo Rafael Bordalo Pinheiro), mas rapidamente foram proibidas por uma portaria assinada pelo Marquês de Ávila e Bolama, presidente do Ministério, alegando que os oradores suscitavam "doutrinas e proposições que atacavam a religião e as instituições do Estado".

    A Geração de 70 procurou, com estas Conferências, fazer um debate mais amplo sobre o pensamento moderno e as transformações que tardavam a acontecer em Portugal. No Programa dos Conferências, publicado em 16 de Maio de 187l, lia-se que visavam:

ð      "[...] Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a Humanidade civilizada;

ð      Procurar adquirir a consciência dos factos que nos rodeiam na Europa;

ð      Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna;

ð   Estudar as condições de transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa."

 

Obras consultadas e aconselhadas

Ferreira, Alberto (1971): "A Questão Coimbrã: antecedentes e início da polémica", "Significação ideológica da Questão Coimbrã", in Perspectiva do Romantismo Português. Lisboa: Edições 70, pp. 201-245.

França, José Augusto (1974): “A Questão Coimbrã: Literatura e Moral", in O Romantismo em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 5.º vol., pp. 839-881.

Machado, Álvaro Manuel (1977): A Geração de 70 - Uma Revolução Cultural e Literária, Lisboa: ICALP, col. Biblioteca Breve.

Machado, Álvaro Manuel (1987): A Geração de 70. Lisboa: Circulo de Leitores.

Quadros, António (1967): "As Conferências do Casino e o seu significado no contexto português", in As Grandes Polémicas Portuguesas. Lisboa: ed. Verbo.

Reis, Carlos (1995): "Realismo e Naturalismo" in O Conhecimento do Literatura, Introdução aos Estudos Literários. Coimbra: Almedina, pp. 435-452.

Simões, João Gaspar (1973): A Geração de 70, alguns tópicos para a sua história. Lisboa: ed. Inquérito.

 

Páginas da Internet recomendadas

http://www.citi.pt/cultura/temas/frameset_1870.html

http://www.citi.pt/cultura/temas/frameset_realismo.html

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